Come as you are: o convite de uma sessão de análise
Entre a vergonha e o desejo de falar, existe um lugar onde a escuta se oferece inteira.
Costumo dizer que a sessão de análise é o lugar onde o convite mais profundo é: venha como você está.
Com raiva, com vergonha, com dor, com repetição. Com palavras desconexas ou silêncio.
Não é necessário saber por onde começar — muito menos como terminar.
O que importa é que ali, naquele espaço reservado entre dois sujeitos, você possa começar a dizer.
E ao dizer, construir alguma coisa com isso.
A maioria das pessoas imagina que precisa “ter um problema definido” para procurar análise. Mas, na verdade, muitas vezes é só no próprio processo de falar — mesmo sem saber o que dizer — que os contornos das questões vão surgindo. O sofrimento não precisa ter nome. O desejo também não.
Muitos chegam dizendo: “Eu não sei por onde começar”.
E eu sempre respondo, em silêncio ou com um gesto: “Comece por aqui”.
Porque às vezes o que mais falta na vida de uma pessoa é um lugar onde ela possa simplesmente ser.
Na análise, diferente das conversas do dia a dia, ninguém está ali para corrigir, apressar ou interromper. Não há julgamentos, explicações prontas, nem expectativas de coerência. Existe um tempo próprio, um ritmo que escuta o inconsciente, as pausas, os lapsos, os esquecimentos. Existe espaço para o que não faz sentido — porque é justamente aí que algo pode emergir.
Há dias em que o silêncio toma conta. Há dias em que o choro vem antes da fala.
E tudo isso também é linguagem.
Na sessão, não se exige performance emocional. Você não precisa estar bem. Nem triste. Nem saber explicar. Pode vir confuso, culpado, irritado, descrente. Pode vir cansado. Pode vir quebrado. Pode vir.
Pode, inclusive, faltar — e falar sobre isso depois. Porque até a ausência diz alguma coisa.
Lacan dizia que a análise é feita com palavras, mas também com o desejo.
E o desejo aparece justamente nas entrelinhas daquilo que ainda não conseguimos nomear.
Uma análise não é sobre mudar quem você é.
É sobre criar um lugar onde finalmente seja possível ser quem você é — com seus ruídos, sua história, seus fantasmas e também seus pedaços vivos, criativos, desejantes.
Ali, pouco a pouco, o sujeito pode começar a escutar o que diz, ouvir o que repete, reconhecer onde dói. E quem sabe, um dia, encontrar outros caminhos que não sejam sempre os mesmos.
Você se reconhece nesse lugar onde finalmente é possível falar?
Se quiser, compartilhe comigo ou envie esse texto para alguém que esteja nesse momento de querer começar (ou recomeçar) um processo.
Estou aqui, quando você quiser vir.
Com escuta. Com silêncio. Com tempo.
Michiorlin